segunda-feira, 2 de dezembro de 2019

Antropologia médica

    Editado pela editora Âncora, o livro de António Fontes e João Gomes Sanches, pretende dar o seu contributo na área da medicina popular.

Sinopse: Observando a Natureza, o Homem construiu as primeiras teorias sobre o funcionamento do mundo.  As primeiras teorias médicas surgem, assim, do estabelecimento de relações entre a natureza e a evolução do indivíduo. A presente obra, traça-nos o quadro geral das práticas curativas populares, com destaque para o "males" biológicos e psicológicos e as respectivas curas.

As Plantas e os Portugueses

   Pela mão de Luís Mendonça de Carvalho e editado pela Fundação Francisco Manuel dos Santos, o livro, As Plantas e os Portugueses, vem dar o seu contributo para o estudo da etnobotânica em Portugal. 

   Este ensaio apresenta tradições culturais portuguesas ligadas às plantas (simbologia, lendas, literatura, etc), assim como informação sobre a nossa flora autóctone, árvores monumentais, parques, jardins e proteção da natureza.

sábado, 16 de novembro de 2019

Juglans regia

    No Outono, os frutos secos são consumidos pelo seu incrível sabor principalmente na época do Pão-por-Deus são castanhas, nozes, amendoins, assim como figos passados e tâmaras, estes últimos introduções mais recentes devido à melhoria da qualidade de vida e à globalização. 
    A noz riquíssima em óleos essenciais já era utilizada pelo Homem desde o período Neolítico. A árvore, Juglans regia L., é originária do Sudoeste Asiático e da Pérsia e pertence à família  Juglandaceae. 
    As culturas mais antigas que se conhecem desta árvore remontam à Antiga Grécia cujo nome dado pelos gregos, karuon basilikon significava cabeça real, e persikon, origem persa. Na antiga Roma, a árvore era considerada sagrada, a partir da qual, os romanos extraiam das nozes, um delicado óleo para suavizar manchas no rosto e disfarçar cicatrizes, bem como as folhas eram usadas  em infusões para fins medicinais. Nos casamentos as nozes, descascadas espero, eram atiradas aos noivos como símbolo de fertilidade. Na culinária, as nozes eram ingeridas junto com passas, bem como feita uma conserva de nozes mergulhada em água durante nove dias, sendo que depois de secas eram fervidas em mel, gengibre e cravinho, e em seguida guardadas em potes durante 3 meses, antes de consumir. 

SABIAS QUE?
Na ilha da Madeira eram cultivadas nogueiras devido ao fruto, bem como usadas as folhas em decoções para problemas cutâneos, e em infusões para "purificar o sangue"...

sexta-feira, 1 de novembro de 2019

Castanea sativa


     O castanheiro pertence à família Fagaceae, onde se inclui também os carvalhos, sobreiros e faia, originários da região mediterrânica ocidental. O castanheiro, Castanea sativa Mill, inclui-se ainda na subfamília Castaneoideae, sendo uma árvore de grande porte com folhas decíduas, e frutos enclausurados numa cápsula espinhosa. Ao longo dos séculos tem sido usado na industria madeireira devido à sua resistência, e os seus frutos como fonte de substência de vários povos. 
      Aponta-se que foram os gregos que domesticaram a árvore  a partir de espécies selvagens da cidade de "Kastanea" que deu origem ao latim castanea. No séc. V a.C., os mesmo ao passarem pela cidade Sardes, rota para Ásia Menor recolheram e introduziram-na na Grécia. Curiosamente, Plínio na sua obra História Natural, em pleno Império Romano, menciona que a castanha era chamada "bolota de Sardes" ter sido trazida pelos gregos. Nessa época, já os romanos guardam as castanhas descascadas e cobertas mel em potes para usar em banquetes ou ingeriam-nas assadas. Na idade Média, era incentivado o cultivo do castanheiro na Europa onde reinou o consumo da castanha durante séculos nas mesas mais humildes. Mais tarde, no século XVIII, perdeu o seu protagonismo para a cultura da batata. 
     Hoje, o consumo da castanha está ligado às comemorações do Pão-por Deus e São Martinho, sendo consumida durante o Outono, normalmente cozida ou assada.

SABIAS QUE?
      Na ilha da Madeira, foi introduzida provavelmente nos começos do povoamento, para fins de recolha de madeira e dos seus frutos. O cultivo permanece até aos dias de hoje em pequenas áreas, bem como existe uma festa popular no Curral das Freiras dedicada à castanha. O chá das folhas, segundo registos etnobotânicos, é  usado para problemas vasculares.

sábado, 21 de setembro de 2019

Açafrão

         O açafrão pertence à família Iridaceae, em árabe significa "ser Amarelo". A cor reforça o simbolismo do açafrão, que está relacionada com a sabedoria e luz. A parte utilizada é o pó da raiz de cor amarela, alaranjada que acrescenta mais cor aos cozinhados. 
O verdadeiro açafrão é proveniente da Grécia e designa-se Crocus sativus, considerada a especiaria mais cara do mundo. No palácio de Knossos em Greta consegue-se observar antigas pinturas da recolha do açafrão, espécie que vale o seu peso em ouro. Na antiga Roma, esta espécie aparece ligada a tradições ancestrais, usada ainda como corante para tingir objetos e tecidos, e ainda vista em gravuras com cerca de 3000 anos. Os romanos usavam-na como medicinal e afrodisíaca, sendo que após as refeições espalhavam-na pelo chão para evitar a embriaguez. Tomando ainda, banhos aromatizados com a planta para despertar a virilidade. Nos banquetes, de modo de ostentar riqueza pincelavam os pratos com uma mistura dourada, de farinha, açafrão  e ovo, em vez da habitual folha de ouro. 
 Em Portugal, existia também o acafrão bastardo, Carthmus tinctorium, designado como açafroa, facilmente confundido com o açafrão normal, mas de valor mais baixo.
       
SABIAS QUE?
Em Portugal, no século XIX, é mencionado o açafrão bastardo para tintas amarelas, avermelhadas. A espécie era plantada no meio do milho, florescendo no Verão, sendo ainda sugerida para produzir óleo devido à grande quantidade produzida nos campos.

quinta-feira, 19 de setembro de 2019

Romazeira, Româ

  A romã pertence à família Lythraceae com o nome cientifico Punica granatum, é  originária do Oriente sendo dispersa rapidamente pela Europa e mais tarde, na época dos Descobrimentos, para o Novo Mundo. Está presente no brasão da cidade de Granada, pensando-se estar na origem do nome desta cidade espanhola. O seu fruto é uma inflorescência com casca coreácea avermelhada, com sementes em bolsa individuais, contendo um líquido também avermelhado.
      A romã é um dos frutos mais antigo do Antigo Testamento, já mencionada no Antigo Egipto. Para os Assíreos era considerada um alimento abençoado que simbolizava a fertilidade e prosperidade. A mitologia grega usa a romã como metáfora para ilustrar a relação proibida entre Perséfone e Hades, sendo também ilustrada em pinturas e mosaicos. Chegou à China como árvore de cultura cerca de um século antes da era cristã, sendo mais tarde, as propriedades medicinais enaltecidas por Dioscórides para inflamações do estômago e problemas oculares. Menciona ainda, a existência de duas variedades de romã, as ácidas (selvagens) e as doces. Tinha também na época, múltiplas aplicações, a preparação de vinho e casca usada nos curtumes, bem como utilizada em saladas, sopas ou sobremesas. 
           

Sabias que?
          No México, a romã dá cor ao prato nacional, chilles en nogada, prato que ostenta as cores da atual bandeira mexicana, as mesmas do exército de libertação (Ejercito Trigarante), que no século XIX, obtiveram a independência de Espanha. Inventado pelas freiras do mosteiro em Puebla, aquando da passagem do exercito rebelde, o prato nacional era confeccionado com pimentos (verde) recheados de carne cobertos com molho  à base de leite, queijo e nozes (branco), salpicado com bagos de romã (vermelho).  

quarta-feira, 21 de agosto de 2019

Dióspireiro, dióspiro, alperceiro-do-Japão

  O dióspiro é proveniente da família Ebenaceae, sendo que o género Diospyros tem várias espécies, mas a mais conhecida e disseminada é o Diospyros kaki uma pequena árvore de surgiu de forma espontânea no Oriente, mas é no Japão que tem maior reconhecimento, visto que durante séculos foi o alimento de subsistência da população asiática. Os primeiros europeus a terem contato com o fruto foram os sacerdotes jesuítas que chegaram ao Oriente no século XVII, mas só no século XIX iniciou-se o cultivo no mediterrâneo. Descrito por Carl Lineu, o "fruto divino", tal como menciona Teofrasto é também conhecido por alperceiro do Japão, uma espécie que varia entre os 8 a 10 metros de altura com folhas alternas, curtamente pecíoladas; flores unissexuais, produzindo-se em diferentes plantas, sendo que as femininas geralmente solitárias, são de cor amarelo campanuladas, e o fruto amarelo-alaranjado ou avermelhado com cerca de 4,5 a 7,5 cm de diâmetro, com polpa muito doce e gelatinosa. 

Sabias Que?
     O Dióspiro é um dos símbolos festivos do Japão! E que existem diversas teorias das melhoras formas de os colher, pela adstringência da polpa, à cor final de amadurecimento ou para os mais impacientes abanando a árvore rezando entre dentes, para que caia rapidamente ao chão...


terça-feira, 13 de agosto de 2019

Canela

    Muito antes da época dos Descobrimentos, descobriu-se a par de outras espécies de alto valor comercial, a canela. Da família Lauraceae, a canela desde a Antiguidade é referenciada como aromática, em templos e casas, e bebidas, e ainda usada como medicinal para preparação de unguentos.  Kinnamom palavra grega que significa "madeira doce", que está na raiz do nome científico da canela, Cinnamom verum. Nos séculos XIII e XIV, o monopólio estava nas mãos dos italianos que comercializavam através do Mediterrâneo, duas espécies de canela C. verum (canela) e Cinnamom aromaticum (cássia ou canela), uma árvore da Indonésia parecida com a original.

Sabias que?

A grande dúvida da civilização grega, em relação à canela, devia-se à sua origem. O secretismo em volta da sua origem fazia da canela, um produto caríssimo e só ao alcance das classes mais elevadas. Nas reflexões de Teofrasto relativas à sua origem existem teorias absurdas, desde aves que traziam pauzinhos no bico do cimo de montanhas ou de vales de cobras onde eram recolhidas para posterior uso...

Maracujazeiros

        Existem várias espécies do género Passiflora, a maioria das quais da América Central e do Sul. Da família Passifloreaceae existem cerca de 4 centenas espécies de variadíssimas formas, ovais, redondas com textura rugosa a lisa, e de diferentes cores, roxas, amarelas, alaranjadas, etc... Descobertas pelos exploradores espanhóis tiveram na época dos Descobrimentos uma grande dispersão para o velho continente, as primeiras espécies encontradas foram as Passiflora incarnata e P. ligularis originárias dos Andes, e que devido ao seu tamanho, as chamaram de granadas (romãs). A palavra maracujá deriva da expressão mborukuýa do dialeto tupi-guarini, que significa "fruto que se come numa cuia ou concha". Em terras de Vera Cruz, os portugueses descobriram a variedade roxa Passiflora edulis. No arquipélago da Madeira podemos encontrar as espécies P. edulis, P. molissima e P. incarnata, todas introduzidas por motivos alimentares e que por rápido crescimento, em particular, P. molissima tornou-se infestante.

Sabias Que ?

Quando os jesuítas observaram a flor do maracujá chamaram-lhe a flor da paixão do latim flos passionis. Analogia religiosa entre a aparência da flor  e o ciclo cristão "Paixão de Cristão". Os filamentos ao centro do bordo, azul ou lilás, simbolizam a coroa de espinhos; os três estiletes, os cravos da crucificação, o quinteto de estames, as cinco chagas de Cristo, enquanto as pétalas personificam os dez dos doze apóstolos, uma vez que Pedro negou o Mestre e Judas, traiu-o...

sexta-feira, 19 de julho de 2019

Divulgação da Candidatura: Porto Santo - Reserva da Biosfera da UNESCO

    Foi hoje realizada uma palestra, proferida pela Prof. Dr.ª Susana Fontinha que lidera a equipa de trabalho em representação da Secretaria Regional do Ambiente e Recursos Naturais, a divulgação da candidatura da ilha do Porto Santo à Rede Mundial de Reservas da Biosfera da Unesco, que tem como intuito contribuir para a proteção, valorização e dinamização do património natural existente num determinado território de modo a aumentar  e divulgar o conhecimento científico, e ainda promover o turismo e o desenvolvimento sustentável do Porto Santo.
     Atualmente no nosso país existe a Rede Nacional de Reservas da Biosfera com representantes de todas as reservas nacionais e um representante da CNU (Comissão Nacional da Unesco), contando ainda com o auxílio técnico de universidades portuguesas convidadas e outras entidades. Esta rede comporta várias áreas, a nível continental e arquipélagos da Madeira e Açores. 

Território Continental:  Boquilobo,  Reserva da Biosfera Transfronteiriça do Gerês –Xurés (Portugal/ Espanha), Berlengas - Peniche,  a Reserva da Biosfera Transfronteiriça Meseta Ibérica (Portugal/ Espanha), a Reserva da Biosfera Transfronteiriça Tejo/Tejo Internacional (Portugal/ Espanha) e Castro Verde. 

Arquipélago dos AçoresCorvo - Açores, Graciosa - Açores, Flores - Açores, Fajãs de S. Jorge - Açores. 

Arquipélago da MadeiraSantana - Madeira e Porto Santo (candidatura).

"Atlantic Wonders - Summer School"

        Numa interligação entre a ecologia e o design surge de 23-30 julho de 2019, a segunda edição de  "Atlantic Wonders - Summer School". A ilha da Madeira rica em biodiversidade e em distintos ecossistemas será o laboratório perfeito para que vertente do design possamos obter conhecimentos e algumas das técnicas utilizadas na área das Ciências Naturais. 
       Madeira will host the second edition of the Atlantic Wonder Summer School from 23–30 July 2019. The rich biodiversity and presence of various natural ecosystems make of the island the perfect living lab to experiment with and shape a Nature Centred Design approach. This year we will focus on tools and methods that belong to the natural sciences. We will explore and apply these in order to learn about the complex interconnections within natural mechanisms and systems. 

quinta-feira, 20 de junho de 2019

Árvore Extinta da Família do Chá Descoberta na Ilha da Madeira

      Há cerca de 2,5 milhões de anos na Europa e na Ásia existia uma pequena árvore da família Theaceae, Eurya stigmosa, que devido a alterações climáticas desapareceu da plataforma continental, mas permaneceu  nas ilhas Atlânticas. Segundo investigações paleobotânicas mais recentes, publicadas na revista científica Quaternary Science Reviews por Carlos Góis Marques, aluno de doutoramento em Geologia pela Faculdade de Ciências (U. Lisboa), esta mesma planta existiria também na ilha da Madeira à cerca de 1,3 milhões de anos, embora em situação de refúgio juntamente com várias plantas que hoje em dia constituem a Floresta Laurissilva. 
     A floresta Laurissilva na ilha da Madeira representa 20% do total da ilha distribuída por 15. ooo hectares, tendo caraterísticas subtropicais, húmida, e tendo ocupado áreas ao longo da bacia do mediterrâneo mas que devido às últimas glaciações desapareceu, tendo o remanescente permanecido na zona da Macaronésia (arquipélagos da Madeira, Açores, Canárias e Cabo Verde). Esta nova espécie, Eurya Stigmosa, descoberta por este jovem investigador, também mais tarde extinguiu-se, possivelmente devido às glaciações que ocorreram durante o Pleistoceno ou, segunda hipótese, devido à época de colonização pela ação do Homem. 

quinta-feira, 4 de abril de 2019

O Chá e os Portugueses

    A planta da família Theaceae, Camellia sinensis, é originária do sudoeste asiático. Esta planta, segundo a lenda, começou a ser ingerida em água a ferver no II século a.C  no Oriente por acidente, quando uma folha da árvore caiu numa chávena de água a ferver preparada para o imperador Chang Nung. Contudo, as folhas desta planta já eram anteriormente ingeridas, sendo consideradas uma "iguaria vegetal", pelo modo de preparação similar aos "pickles". Os monges budistas, também adoptaram o hábito do chá, sobretudo porque os ajudavam a permanecer despertos durante longas horas de meditação. Mais tarde, no século V, o chá chegou ao Japão por uma rota que passava pela Coreia, e no final do século VI, o consumo de chá já se tinha generalizado por toda Ásia.
Na época dos Descobrimentos, a planta saiu do oriente para o velho continente, a Europa, e mais tarde para o Novo Mundo. Os corajosos portugueses tiveram um importante papel na sua dispersão; reza a lenda que a introdução do chá na Grã-Bretanha deveu-se à rainha D. Catarina de Bragança aquando do seu casamento com um rei inglês, levando assim, o hábito da ingestão de uma chávena de chá pela tarde.

segunda-feira, 1 de abril de 2019

O Cacau


    A planta do cacau (Theobromma cacao) é originária da região amazónica da América do Sul, sendo já conhecida pelos povos maias, como indicam os antigos hieróglifos encontrados na região. "Ka-Ka-Wa" (glifo maia de onde derivou a palavra  "cacau"), continha formas próprias de cultivo, secagem e de moagem, podendo ainda ser misturada com baunilha (Vanilla planifolia), mel de abelhas ou ainda malaguetas (Piper sp.). Misturada com água era uma bebida estimulante de delicioso odor e sabor, que os primeiros europeus julgavam ser uma espécie de "vinho". Servia de moeda de troca na América Central e do Sul, um bem precioso, pois a aristocracia mesoamericana monopolizava o seu consumo. 
Esta planta, cacaueiro, chegou  à Europa de forma reiterada através dos séculos, primeiro com Cristovão Colombo no século XV, mais tarde com Hernás Cortés século XVI, sendo também consumida pela aristocracia europeia, e mais tarde popularizada pelos grandes centros europeus da época, nas casas de chá e chocolate. No fim do século XVIII, o chocolate quente já era bastante preterido ao chá e café, como bebida, sendo mais tarde convertida em barras sólidas pelos ingleses e transformadas devido a adição de diferentes plantas, açúcar (Saccharum offinarum), frutos secos (amendoim -Arachis hypogaea; amendôa- Prunus dulcis), ou menta (Mentha sp.), num dos alimentos mais cobiçados e adorados do mundo... UAUU, Cacau...