sábado, 22 de março de 2014

Dia da Floresta e da Poesia

    Ontem, comemorou-se o Dia Internacional das Florestas e Dia da Poesia. Ambas, floresta e poesia, tornaram-se imprescindíveis para o Homem, a primeira por uma questão de sobrevivência (fonte de oxigénio, alimento, medicação, abrigo, vestuário, combustível, entre outras), a segunda, e de acordo com os entendidos, para alimentar o espírito. 

As árvores e os livros


As árvores como os livros têm folhas 

e margens lisas ou recortadas, 
e capas (isto é copas) e capítulos 
de flores e letras de oiro nas lombadas. 

E são histórias de reis, histórias de fadas, 

as mais fantásticas aventuras, 
que se podem ler nas suas páginas, 
no pecíolo, no limbo, nas nervuras. 

As florestas são imensas bibliotecas, 

e até há florestas especializadas, 
com faias, bétulas e um letreiro 
a dizer: «Floresta das zonas temperadas». 

É evidente que não podes plantar 

no teu quarto, plátanos ou azinheiras. 
Para começar a construir uma biblioteca, 
basta um vaso de sardinheiras. 

                                             Jorge Sousa Braga

domingo, 2 de março de 2014

Feiteira

   Neste pequeno universo insular, 760 km2 de orografia íngreme e agreste, outrora de vegetação exuberante, hoje repleto de frondosas acácias (Acacia sp.), cativantes pinheiros (Pinus sp.), elegantes eucaliptos (Eucalyptus globulus), e esbeltas canas vieiras (Arundo donax), que por enquanto, iludem a visão do turista mais distraído ou míope, enredos cómicos elaboram-se e vendem-se.
   Na nossa região, tal como a feiteira [Pteridium aquilinum (L.) Kuhn], pteridófita muito comum na ilha, o espírito de competição abunda, o espírito de camaradagem e partilha dilui-se. A inexistência de partilha de informação ou conhecimento é real e concreta, ensina-se, imprime-se e perpetua-se através de gerações. A mentalidade do ilhéu revela-se por vezes, pequena e fechada, pouco fazendo para mudar, excepto raras excepções. No entanto, espera-se assim, que tal como a feiteira (família Hypolepidaceae), de rizomas extensos, frondes triangulares a ovadas e pêlos acastanhados, esta forma de estar no mundo, restrinja-se às serras e terrenos incultos.
   Mas o pouco de uns, torna-se o muito de alguns, e o anseio de reconhecimento é grande, sanguinariamente desejado, intestinalmente concentrado. Inventam-se histórias, criam-se boatos, mas até para isso há bom remédio, visto que a época é de penúria para alguns, semelhante a outros tempos, em que triturava-se o rizoma da feiteira para fazer papas e pão para saciar a fome, sugere-se para o ego, a pasta de celulose reciclada...
     Por aqui, mantém-se uma consciência limpa, o sentimento de tranquilidade e de esperança por novos tempos, com mais frontalidade, franqueza e partilha.
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