terça-feira, 22 de agosto de 2017

O Chá de Segurelha

          Os tempos eram difíceis e árduos, os dias repetiam-se com o único objetivo de colocar comida sobre a mesa. Da terra saíam as hortaliças: batata doce, semilhas, feijão, entre outras; da rocha: os alhos, cenouras e azedas, e de perto dos ribeiros: o inhame, galhotas, e o agrião. No rosto, as linhas revelam o passar do tempo, conferindo uma estranha rudeza, que contrasta com um olhar profundo, doce, estranhamente doloroso para quem o vê pois é claramente sofredor. O dia começa cedo para as jovens mulheres, as semilhas do jantar do dia anterior, e uma chávena de café saciam a fome, as galinhas e porcos têm de ser alimentados, as camas feitas e o chão varrido. No lume é colocado a panela para o almoço, semilhas e feijão, que será embrulhada numa toalha, juntamente com pequenos pêros e um pão que alberguerá a mistura de vinho diluído com açúcar e raspas de limão. O dia será longo e só terminará após o último socalco de terra ser revirado para receber o mato seco e a feiteira, que servirá de cama para a batata germinar e crescer. Pelo caminho, colhe-se ainda erva para que no dia seguinte seja alimentada a vaca, entre a exaustão de um dia de trabalho, a terra e o suor que lhe desce o rosto, as mãos enrugadas e morenas trabalham rapidamente pois o jantar ainda terá de ser feito, e a água de rega chegará tarde. As costas doem, e o peso da barriga custa, os nove meses estão quase no fim, mas a lua está ainda em quarto minguante, e a erva terá de ser levada até casa. Mais tarde, com o jantar adiantado, uma lanterna é acesa, o caminho até à cultura ainda é longo e a claridade é pouca, após algumas horas com os pés gelados e molhados, o trilitar dos dentes sobrepõem-se ao vento, que move as folhas das árvores próximas, as dores tornam-se insuportáveis, mas a rega ainda não terminou. A custo e gelada até à alma, percorre o caminho até casa e lembra-se enquanto encerra os dentes, que a água terá ainda de ser aquecida e a tesoura esterilizada. De súbito, e ao mesmo tempo que avista a casa, um fluxo de água quente desce pelas pernas que tremem, chegou a hora, pensa. Ela nasce, pequena e rosada, gritando em plenos pulmões. Após ser limpa com paninhos de linho, a mãe de olhar terno, embrulha-a numa pequena manta e coloca-a ao seu lado por breves minutos. Logo, os lençóis da cama são mudados, a higiene feita e a roupa trocada, o jantar terminado e o chá tomado, antes de aconchegar-se junto à filha onde acaba por adormecer exausta, esperando pelo marido, que acabará por chegar... 
Chá - decocção de segurelha, Thymus vulgaris, para promover contrações e a saída da placenta. 

quinta-feira, 3 de agosto de 2017

Documentários - Plantas (Arquipélago da Madeira)

    Para as férias, e para quem gosta de plantas, deixo aqui uma sugestão, a visualização de "Plantas Com História", conjunto de vários documentários de 10 minutos realizados pela RTP Madeira, em 2016, tendo como principal orador o geógrafo Prof. Dr. Raimundo Quintal. Com vários temas, relativos diferentes espécies de plantas, o investigador menciona gimnospérmicas e angiospérmicas, endémicas, introduzidas e autóctones oriundas dos mais diferentes pontos do mundo. 
     Desfrutem!